quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Nas Inquirições

Verifiquemos agora como muito do que aqui se escreveu vem confirmado nas inquirições de D. Afonso II e D. Afonso III, na parte relativa a Nabais. Comecemos pelas de 1258:

Item, disse que Paio Correia comprou aí um casal, do qual davam a El-Rei a sexta em ração, e não tinha aí qualquer avoenga nem entrada, e à sua morte deu-o ao Mosteiro da Várzea e do mesmo casal fizeram dois de novo.

Item, D. Ouroana, sua filha, fez três casais aí na Pedra Aguçadoira, que é termo de Nabais, e não dão daí nada a El-Rei.[1]

Isto eram factos velhos: D. Paio Correia, pai de D. Ouroana, já tinha morrido antes de 1220; nesta data já a sua antiga propriedade passara para o Mosteiro da Várzea. Também D. Ouroana Pais, sua filha, teria morrido ou seria idosa.
D. Paio Correia seria da geração de Sancho I. Um neto seu, D. Paio Correia também, em 1258, estaria já entre os cinquenta e os sessenta anos.
Mas a presença de D. Ouroana fora assinalada por estas paragens décadas antes, nas inquirições de 1220. Veja-se:

E em Eirós apropriou-se D. Ouroana Pais duma herdade reguenga, que é do termo de Nabais, e fez dela forra.[2]

D. Ouroana ostenta o apelido de Pais, que quer dizer filha de Paio, D. Paio Correia. E também por aí andava o seu marido, D. Pedro Gravel de seu nome (o texto diz Gavel, mas outro manuscrito corrige para Gravel):

E da herdade de Paio Godins davam seis côvados de bragal por fossadeira, e comprou-a D. Pedro Gavel, e agora não dão nada.[3]

D. Ouroana e o marido assinalam-se em S. Salvador de Silveiros, depois anexada a S. João de Silveiros, junto a Monte de Fralães, onde ficava o solar da família. Escreve-se lá, por exemplo, em 1258, que o abade disse que «Pedro Gravel, com a sua esposa D. Ouroana, comprou as herdades dos Madinos...»[4]
Ensina o Monsenhor Manuel Amorim que esta D. Ouroana foi importante povoadora da actual Aguçadoura.
A esposa de D. Paio Correia, mãe de D. Ouroana, já o vimos, chamava-se Gontinha Godins. Ora em Nabais aparecem Godins. Quem sabe se não foi pela via de interesses económicos herdados que os Correias cá apareceram. Porque eles não eram daqui. Dizem as inquirições que eles compraram, compraram bastante, mas podiam ser donos de muito mais...
D. Gontinha Godins ocorre também em Viatodos, numa frase justamente célebre:

No casal que foi de D. Gontinha criaram recentemente uma filha de João de Guilhade.[5]

[1] Item, dixit quod Pelagius Corrigia comparavit ibi unum casale, de quo dabant Domino Regi sextam in ratione et non habebat ibi aliquam avolengam neque intratam, et ad mortem suam dedit illud monasterio de Varzena et de ipso casale fece­runt duo de novo.
Item, Domna Ouroana, filia sua, fecit tria casalia ibi in Petra Aguzadoira que est in termino de Nabaes et non dant inde aliquid Domino Regi.
[2] Et in Eiroos filiavit domna Ouroana Pelagiz quandam heredi­tatem regalengam, que est de termino de Nabaes, et fecit de illa ingenuam.
[3] Et de hereditate de Pelagio Godiiz dabant vj. cubitos de bracali pro fossadeira, et comparavit illam domnus Petrus Gavel, et modo nichil dant inde.
No Nobiliário do Conde D. Pedro, escreve-se sobre Pedro Gravel:
Este dom Pero Pirez Grauel foy casado com dona Ouroana Paaez Correa, e fez em ella semel como já dissémos.
[4] Item dixit quod Petrus Gravel cum uxore sua Domna Ouroana comparavit hereditates dos Madinos...
[5] Item, dixit quod in Britelus, in casali que fuit Domne Guntine, nutriverunt modo filiam johannis de Guiladi.

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